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Secretaria de Agricultura desenvolve trabalhos voltados à proteção do solo

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Nem sempre reconhecidos pela população em geral como recursos naturais importantes, os solos são essenciais à produção de alimentos e, portanto, para a vida. Nesta quarta-feira (15), foi comemorado o Dia Nacional da Conservação do Solo. Tendo em vista esse cenário, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado promove diversos trabalhos ligados à proteção do recurso.

“Consideramos que o solo é um recurso natural não renovável e um importante componente dos ecossistemas, regulando o ciclo da água”, diz a pesquisadora Isabella Clerici De Maria, do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. “É também a base da produção agropecuária. Por isso, o controle da erosão é fundamental para a segurança alimentar da população e para o meio ambiente”, completa.

Apesar de indispensável, os solos sofrem, no Brasil como no mundo, um constante processo de degradação, fruto de uso agrícola exaustivo, desmatamento e expansão urbana desordenada, entre outros fatores.

“Existem levantamentos em nível mundial, feitos pela FAO [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação], com dados enviados por pesquisadores do mundo todo, que indicaram que o principal fator de degradação dos solos é a erosão hídrica”, conta Isabella.

Segunda a pesquisadora do IAC, a organização internacional estima que, atualmente, a cada cinco segundos, cerca de 1 hectare de solo é erodido no mundo. “Se continuarmos nesse ritmo, 90% dos solos do mundo estarão degradados em 2050”, informa.

Preservação

A solução para o desafio da conservação dos solos passa por várias esferas, sendo a pesquisa científica essencial na busca por soluções que venham a impedir o avanço da degradação e a fomentar a recuperação dos solos. “O IAC foi uma das primeiras instituições brasileiras a implantar experimentos de campo para medir a erosão, no final dos anos 40”, pontua a pesquisadora do instituto.

De acordo com Isabella, os dados obtidos desde então nas estações experimentais são utilizados para avaliar o efeito de culturas e sistemas de manejo no controle da erosão e na melhoria da qualidade do solo. “Esses dados demonstraram, por exemplo, a efetividade do uso do sistema de plantio direto para o controle da erosão e os prejuízos causados pelo emprego inadequado de implementos como grades e subsoladores”, assegura.

Mais recentemente, o IAC vem trazendo inovações importantes para as pesquisas na área. “O Instituto tem trabalhado no desenvolvimento de técnicas que permitem avaliar a erosão dos solos a partir de imagens obtidas por sensores embarcados em drones, tanto em lavouras como em estradas e carreadores”, menciona a pesquisadora, ressaltando também os estudos sobre compactação dos solos, que buscam alternativas de manejo para evitar que se degradem.

No que diz respeito ao dia-a-dia do produtor rural, Isabella diz que os produtores têm disponíveis diversas técnicas para evitar a erosão ou recuperar áreas já degradadas, que devem ser combinadas de acordo com as condições de cada local. O primeiro passo para a escolha da técnica adequada, afirma, é conhecer o solo e os problemas que já ocorreram na propriedade.

Apesar de não haver dados mais recentes que indiquem quanto do solo em atividades agropecuárias está degradado, Isabella lembra que estimativas feitas há cerca de cinco anos pela Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), da Secretaria de Agricultura, indicaram que 20% das áreas de pastagens no estado de São Paulo apresentavam estágio avançado de degradação.

Sistemas integrados

O Instituto de Zootecnia (IZ) tem trabalhado para o desenvolvimento de pesquisas para a conservação de solo e água, por meio de pesquisas em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, mantendo a sustentabilidade da produção. A utilização dos Sistemas reduz a perda de solo já que durante todas as estações do ano há cobertura constante do solo, seja pelas culturas ou pela pastagem, protegendo a sua superfície. Dessa forma os sistemas integrados têm sido utilizados dentro da rotação e sucessão de culturas-pastagem como parte do manejo conservacionista, devido à ciclagem e uso eficiente de nutrientes.

Os sistemas promovem a conservação do solo, por meio da diversificação da atividade agrícola e pecuária, disponibilizando forragem na estação seca e eliminando a necessidade de semear plantas de cobertura no inverno ou na primavera, para a produção de palha para o sistema de plantio direto.

Os experimentos do IZ têm mostrado que o consórcio de gramíneas e leguminosas forrageiras, por exemplo, ganham força, já que tem promovido ganhos por meio da fixação biológica do nitrogênio e da cobertura do solo, garantindo maior rentabilidade ao produtor.

Legislação

A Lei de Uso do Solo vigente em São Paulo não permite tratores para preparo do solo em áreas com declividade que venham a colocar em risco a vida do tratorista, e o solo que pode sofrer danos muito mais profundos, como as voçorocas que impedem o uso da terra para atividades agrícolas. É por esse motivo que a Secretaria de Agricultura e Abastecimento incentivam a divulgação da tecnologia, como a utilizada em uma pequena propriedade instalada em Santa Isabel, município da área de atuação da CDRS Regional Mogi das Cruzes.

O Sítio São Luiz, segundo a zootecnista da CDRS, Dayla Ciâncio, que atende a propriedade há cerca de dois anos, é representativa do tipo de propriedades da região: pequenas, com atividade leiteira e com pastagens degradadas instaladas em áreas de morro. O produtor conta com dez vacas em lactação e produz cerca de 100 litros de leite por dia, com duas ordenhas, trabalha sozinho, tendo essa atividade como sua única renda.

“O intuito é primeiro melhorar a alimentação do gado, que recebe ainda capim napier no cocho, para depois melhorar a genética”, explica a zootecnista. Para isso, foi implantado um piquete inicial e onde havia apenas grama foi feita a dessecação com glifosato e, posteriormente, jogadas as sementes junto com adubo.

O engenheiro agrônomo Ricardo Manfredini, extensionista da CDRS, foi responsável pela implantação da Unidade Demonstrativa (UD) em Santa Isabel, para divulgar e incentivar o uso da técnica, adotada em municípios do Vale do Paraíba, em especial Natividade da Serra e Redenção da Serra.

“É uma técnica ideal para pequenas áreas, porém nada impede a utilização em grandes áreas, a vantagem é que o pequeno pode ir fazendo aos poucos e consegue realizar a operação sozinho. Tendo a área delimitada, deve-se fazer a amostragem do solo para providenciar a calagem, a seguir dessecar o mato, a semeadura será feita a lanço junto com o adubo sobre o mato dessecado, permitindo que o capim aflore com vigor”, destaca.

É uma técnica diferente do Plantio Direto na Palha (PDP), também muito difundida, na qual a semeadura é feita sob a palha e não sobre a palhada, caso dessa tecnologia. Felipe Monteiro, diretor da CDRS Mogi das Cruzes, afirma ser uma técnica de baixo custo em relação a outras e oferece uma oportunidade de se adequarem à Lei de Uso do Solo, já que não é permitido o revolvimento com maquinários em áreas montanhosas.

“Tínhamos programado, antes da pandemia, um Dia de Campo para divulgar a tecnologia na região, assim que for possível, estaremos de novo na linha de frente para aproximar o produtor rural das tecnologias disponíveis”, afirma o diretor.

Integra SP

O Governo de São Paulo, via secretaria, disponibiliza uma verba que, em 2019, estava em R$ 6 milhões para que pequenos, médios e grandes produtores rurais que tenham terras degradadas por grandes erosões possam se beneficiar de até R$ 25 mil a fundo perdido para a recuperação das áreas. A subvenção é de até 90% para os pequenos, 85% para os médios e 75% para as grandes propriedades.

“É preciso que procurem a Casa da Agricultura local, a qual encaminhará a solicitação às Unidades Técnicas de Engenharia [UTEs] da CDRS em todo o Estado. Será feita uma visita técnica e delineado o projeto que terá a execução acompanhada pela UTE da região. Ao final do processo o produtor será reembolsado”, explica Alexandre Grassi, da assessoria da CDRS, e responsável pelo gerenciamento do Projeto Integra SP – Radge (Recuperação de Áreas Degradadas por Grandes Erosões).

“Trata-se de uma importante política pública que está disponível e que tem sido utilizada, principalmente, nas regiões de General Salgado, Presidente Venceslau, Presidente Prudente e Marília, mas que está disponível para todo o Estado”, diz. Tais regiões já são conhecidas pelos solos mais pobres, arenosos, como os argissolos e, portanto, mais propensos às erosões e onde se encontram muitas pastagens degradadas.

Quando há grandes erosões, o terreno fica indisponível para a agricultura e sem valor econômico. Com a recuperação, é possível utilizar novamente a área seja para pastagens ou outros cultivos. “O projeto vinha sendo impulsionado e cada vez mais produtores estavam interessados na recuperação de suas áreas, porém, em março, com o avanço da pandemia, as atividades foram temporariamente paralisadas, pois necessitam visitas a campo. Normalmente, os pedidos são feitos na época das chuvas (até final de março) e executados no período de seca, que tem início no outono”, explica o técnico.

Técnicas

Autor de vários projetos realizados em assentamentos de Marília, Walter Hipólito da Silva conta que foram feitos seis planos para tornar viável o uso de máquinas para realizar o trabalho. “Várias técnicas diferentes podem ser abordadas e o mais importante é planejar, junto com o proprietário como manter e fazer da preservação uma preocupação diária”, pontua.

Mário Totti é o técnico da UTE ligada à CDRS Presidente Venceslau, onde as erosões causam um entrave ao desenvolvimento regional. “Esse projeto é uma importante ferramenta de extensão rural para atrair e conscientizar o produtor da necessidade de preservação do solo”. No fim, ele assina um termo de compromisso em manter as Boas Práticas Agropecuárias não só aquela área, mas em toda a propriedade.

“Quando nos sentamos com o produtor para definir o projeto a ser executado, consideramos a propriedade como um todo e não apenas uma parte. A ação passa a ser mais uma ferramenta de extensão rural, de sensibilização do produtor para as questões ambientais. Buscamos a mudança de atitude e é muito gratificante ver que conseguimos mudar a forma de agir do produtor para que sirva de exemplo a outros”, afirma.

Monitoramento

A Coordenadoria de Defesa Agropecuária é o órgão responsável pela fiscalização e do cumprimento da legislação que dispõe sobre o uso, a conservação e a preservação do solo agrícola. Com a fiscalização, é possível fazer o constante monitoramento das áreas agrícolas do Estado, com o objetivo de minimizar os processos erosivos existentes, mas principalmente para solos mais susceptíveis a esse dano, como acontece na região oeste, onde as ações são concentradas.

O propósito da Legislação de Uso e Conservação do Solo Agrícola é de conscientizar o produtor e não o penalizar, sendo que mais de 90% dos autos de infração foram cancelados, porque os danos ao solo passaram a ser sanados.

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