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Coronavírus: estudo nacional indica número de infectados no Brasil sete vezes maior

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O número de infectados pelo novo coronavírus deve ser cerca de sete vezes aquele registrado nas estatísticas oficiais, segundo o resultado da etapa inicial do estudo Epicovid-19, primeira pesquisa nacional sobre a doença.

Em 90 cidades, 760 mil pessoas foram contaminadas (têm anticorpos para a doença), cerca de 1,4% da população somada desses municípios. Nessas cidades mora mais de 25% da população brasileira.

Na cidade de São Paulo, aproximadamente 3,1% da população já teria sido infectada e teria anticorpos na data da pesquisa –trata-se de um retrato da quantidade de infecções ocorrido no início do mês, portanto. No Rio de Janeiro, a taxa é de 2,2%.

As maiores taxas de infecção foram registradas em cidades do Norte, principalmente, como Belém (15,1%) e Manaus (12,5%). A maior taxa entre as 90 cidades pesquisadas foi verificada em Breves, município com 103 mil habitantes, no Pará, com 24,8% deles contaminados, na estimativa.

É preciso observar que a pesquisa verificou se as pessoas tinham anticorpos para a doença –pode se tratar de um infectado assintomático, ou quase isso. Nas estatísticas oficiais, contam-se casos confirmados, pessoas com sintomas evidentes da doença que foram testadas.

O estudo investigou também o grau de adesão ao isolamento social. Em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, mais de 67% dos entrevistados relataram ficar em casa o tempo todo ou sair apenas para atividades essenciais. Em São Paulo, a taxa foi de 63%. A adesão foi menor em estados como Maranhão e Alagoas, com cerca de 47%.

“Essas diferenças entre as cidades demonstram que existem várias epidemias num único país. Enquanto algumas cidades apresentam resultados altos, comparáveis aos de Nova York (EUA) e da Espanha, outras apresentam resultados baixos, comparáveis a outros países da América Latina, por exemplo”, escrevem os pesquisadores na apresentação da pesquisa.

O estudo foi realizado entre os dias 14 e 21 de maio. Trata-se de um teste de uma amostra da população.

Os pesquisadores colheram exames gratuitos de 25.025 pessoas. O trabalho é coordenado por Pedro Hallal, epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas, em colaboração com pesquisadores de outras cinco universidades.

A relativamente baixa proporção de pessoas infectadas indica que a imunidade coletiva (“de rebanho”) ainda está muito longe. A infecção pelo coronavírus praticamente terminaria quando cerca de 65% de uma população estivesse infectada –no entanto essas projeções variam e são objeto de controvérsia.

No caso da cidade de São Paulo, se fosse mantida a taxa de evolução da doença nos últimos dias, apenas no início de agosto mais de 60% da população paulistana teria sido contaminada.

Dadas as estimativas de letalidade, cerca de 40 mil a 60 mil pessoas teriam morrido da doença até lá. Mas se trata aqui de mero exercício aritmético (a taxa de progressão da doença deve diminuir, a taxa de letalidade pode variar etc.).

Os pesquisadores da Epicovid-19 não apresentaram ainda cálculos da taxa de letalidade geral da doença –isto é, o número de mortos dividido pelo número de infectados. Uma conta bruta a partir dos dados apresentados sugere que a letalidade seria alta, em média de cerca de 1% nas 90 cidades. Em São Paulo, seria de 0,77%.

Um estudo amplo feito na China, publicado em de 30 de março na revista médica Lancet, estimou a letalidade em 0,66%. Um outro trabalho, de pesquisadores do Instituto Pasteur, publicado em 13 de maio na revista científica Science, estimou a letalidade geral na França em 0,53%.

O mesmo trabalho indica que, em maio, apenas 4,4% dos franceses haviam sido infectados. A pesquisa nacional por amostra da Espanha estimou que 5% dos espanhóis tinham anticorpos para o novo coronavírus, entre abril e maio, embora em Madri e no centro do país a taxa passe de 10%.

Um estudo feito pela Universidade de São Paulo, pelos laboratórios Fleury e pelo Ibope estimou que cerca de 5% dos moradores de seis distritos da cidade de São Paulo teriam sido infectados. Trata-se de distritos que haviam tido o maior número de mortes por 100 mil habitantes até 23 de abril. A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 12 de maio.

Serão realizadas pelo menos outras três rodadas da Epicovid nacional. A próxima deve começar no dia 5 de junho. Os pesquisadores vão tentar então testar 33.250 pessoas em 133 cidades de todos os estados, o que não foi possível na primeira rodada. Prefeituras disseram não ter sido avisadas da pesquisa e houve detenções de pesquisadores e proibição do trabalho de campo.

No estudo nacional, participam também a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de São Paulo, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

As informações são da FolhaPress

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