Mais adiantado na vacinação, o Estado do Mato Grosso do Sul encaminhou ao Ministério da Saúde pedido para que seja aplicada a terceira dose em idosos. “O porcentual de mortes de idosos tem aumentado significativamente nos últimos tempos”, disse o secretário da Saúde, Geraldo Resende. O secretário destaca que a maior parte dos municípios do Estado já cobriu toda a população maior de 18 anos com, pelo menos, a primeira dose. Por isso, o Estado planeja aplicar o reforço nos idosos.
A dose de reforço em Mato Grosso do Sul pode começar nas próximas semanas, caso o Estado tenha aval do Ministério da Saúde, e teria início entre os maiores de 90 anos – depois, a estratégia será estendida para os idosos acima de 60 com comorbidades. O Estado pretende aplicar a dose de reforço paralelamente à vacinação de adolescentes.
Indagado sobre a necessidade de dose de reforço, o governo paulista informou que discute semanalmente as ações de vacinação no Estado e trabalha “com a possibilidade da vacinação anual”. Sem detalhar os dados por faixa etária, o governo aponta queda de 8% nas hospitalizações. Na capital paulista, a decisão de aplicar a dose de reforço vai seguir definição do Ministério da Saúde, segundo o secretário Edson Aparecido.
Para Julio Croda, infectologista e pesquisador da Fiocruz, a estratégia de aplicar a dose de reforço é necessária considerando a queda de anticorpos neutralizantes após seis meses da vacinação e a redução natural de defesas no organismo dos idosos. Ele vê com preocupação uma eventual espera do governo federal pela publicação de resultados de estudos sobre a dose de reforço.
Essas pesquisas, diz Croda, podem demorar até três meses. Para ele, a vacinação com a dose de reforço pode ocorrer ao mesmo tempo em que se vacina os adolescentes. “Há muita resistência do Ministério da Saúde de sugerir dose de reforço. Quantas mortes vão ser necessárias para tomar essa decisão?”, critica.
Esperar que todos os Estados alcancem a cobertura com a primeira dose nas pessoas acima de 18 anos também deve postergar a estratégia de revacinação em Estados bastante adiantados, como é o caso de Mato Grosso do Sul, que já iniciou a vacinação de adolescentes em alguns municípios.
Epidemiologistas defendem que a terceira dose só comece quando toda a população adulta estiver coberta. O argumento para isso é que a vacinação de adultos e jovens levaria, naturalmente, à redução da transmissão do coronavírus. Para Croda, porém, o avanço da variante Delta ao Brasil complica essa avaliação, uma vez que a transmissão da nova cepa ocorre com facilidade entre os vacinados. Ou seja, o jovem vacinado não representa uma barreira na transmissão do vírus aos idosos com os quais tem contato.
O Estadão questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade de que Estados comecem a revacinação de idosos e sobre a disponibilidade de vacinas, mas não obteve respostas específicas para estas perguntas. A pasta informou apenas que “acompanha estudos sobre a efetividade das vacinas covid-19” e disse que o tema “é analisado pela Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis”. Disse ainda que “analisa as propostas dos laboratórios”.